Recentemente diversas noticias destacaram o casamento do autor da trilogia “Os Mutantes”, da Record, Tiago Santiago, com o chef e modelo Davi Stepurski em Beverly Hills. Afastado das novelas desde “Amor e Revolução (SBT – 2011), o dramaturgo vive atualmente nos Estados Unidos.

Aproveitando a ocasião, lembrei uma entrevista que fiz com o novelista em setembro de 2008, no auge do sucesso da segunda temporada de “Os Mutantes”, na Rede Record. Republico a seguir.

1 – Como surgiu a ideia da novela “Caminhos do Coração”? Foi fácil a Rede Record aprovar a ideia?

Surgiu aos poucos, depois de “Prova de Amor”. Parti da ideia de trabalhar com mistério policial, várias mortes numa mesma família, com luta de poder por causa de uma empresa, depois resolvi enveredar pelo realismo fantástico e pelo tema dos mutantes. Foi sim fácil aprovar a ideia, até porque venho de uma carreira de sucessos na Record, desde “A Escrava Isaura”.

2 – Quais referências foram usadas para a novela? Já tinha lido “X-Men” ou visto “Heroes”?

Foram muitas referências. A novela é inspirada em mitos e lendas, por exemplo, o afastamento de Marcelo e Maria foi inspirado na “Odisseia”, de Homero. Na verdade, é muito mais uma criação original minha que uma recriação da mitologia grega. Eu me utilizo de temas míticos recorrentes, encontrados em diversas culturas, como o poder de curar, a força descomunal, a metamorfose, as quimeras (misturas de homens e animais), invisibilidade, telepatia, lançamento de raios etc. Sou fascinado por mitologia, desde a infância, em grande parte por causa de Monteiro Lobato e também pela coleção da Abril Cultural, que merecia re-edição. No meu Mestrado em Sociologia, na UFRJ, estudei muito sobre o assunto, li autores como Wladimir Propp (“A Morfologia do Conto”); Levi-Strauss (“A Estrutura dos Mitos”); Jung (“Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo”); Joseph Campbell (“A Jornada do Herói”). Histórias de criaturas maravilhosas com poderes especiais existem em todas as culturas do planeta. Isto quer dizer que existe um fascínio universal da humanidade com este tema de super poderes.
Já estava com sinopse pronta sobre mutantes quando soube da existência de “Heroes”. Sou fã de Stan Lee e suas fantásticas criaturas – X-Men, Hulk, Homem-Aranha – mas na verdade minha novela atual se inspira em dois romances de H.G.Wells – “A Ilha do doutor Moreau” e ” A Guerra dos Mundos” – e na “Viagem ao Centro da Terra”, de Jules Verne, e não em “X-Men”, “Lost” ou “Heroes”.

3 – Como surgiu a segunda temporada “Os Mutantes”? O que destaca de diferente entre as duas fases?

Surgiu a partir do sucesso da primeira fase. Eu me baseei em várias referências: os mitos de Atlântida e Agarta; “A Guerra dos Mundos” de H.G.Wells; “A Viagem ao Centro da Terra”, de Julio Verne, entre outras. Outro mote atual da novela – “salvar os bebês para salvar a humanidade” – remete ao tema mítico que se pode ver, por exemplo, nos episódios bíblicos do salvamento de Moisés, no Antigo Testamento, e no sacrifício dos inocentes por Herodes e fuga da família sagrada para o Egito, no Novo Testamento.

4 – Existe a possibilidade de uma terceira fase? Como se chamaria este novo ano e do que ele falaria?

Sim. Existe a possibilidade. Depende da continuação do sucesso. Não temos título definido. Estou pensando sobre temas. Se houver, será a partir de março de 2009, provavelmente (nota do editor: posteriormente teve, chamou “Promessas de Amor).

5 – Primeiro mutantes, depois androide (o robô construído pelo Eugênio) e agora ETs? Porque esta mistura de temas? O que mais falta agora?

Os temas estão relacionados a ficção científica. Neste terreno, tudo pode acontecer. O que mais falta? Que tal ” A Máquina do Tempo”?

6 – Uma das principais reclamações que nós temos dos fãs da novela é que tudo demora demais pra ocorrer, que um único dia demora muito tempo pra passar. Você como autor, como explica esta possível “demora”, existe planos disto mudar?

Os dias demoram a passar porque muita coisa acontece neles. Também é uma estratégia de produção, para permitir que efeitos visuais – às vezes muito demorados – fiquem prontos para exibição, sem prejuízo de continuidade. A novela vai crescer em ritmo e agilidade, em breve.

7 – Em uma pesquisa recente com os leitores perguntamos quais personagens do bem e do mal eram os preferidos deles. Da turma do bem os mais citados foram Perpétua e Chris e da turma malvada foram Gór e Metamorpho. Você imaginava o sucesso destes personagens coadjuvantes? Como planejou cada um deles?

Sempre penso nos coadjuvantes como protagonistas de suas próprias histórias. Talvez por isso eu tenha tanta facilidade de escalar ótimos nomes para minhas novelas. Os atores sabem que eu escrevo bem para todos, não só para alguns. E temos feito testes sempre para identificar novos talentos. Os que você citou são realmente excelentes.

8 – Você acompanha o licenciamento dos produtos de “Caminhos do Coração”? Como funciona para uma empresa licenciar a marca?

Acompanhei o lançamento de álbum de figurinhas e opinei sobre o desenvolvimento do game. Não tenho notícias sobre outros licenciamentos. Empresas interessadas devem procurar a Record Entretenimentos. (nota do editor: posteriormente o game nunca foi lançado).

9 – Alguns leitores criticaram o CD e o álbum de figurinhas da marca. Dizem que o CD vem com músicas que foram tocadas poucas vezes na novela, enquanto outras que foram executadas diversas vezes como “Robocop Gay” não estão. E no álbum a reclamação é que existem personagens na capa (Rosana e Glória) que não tem figurinha. Como ocorreu o processo destes produtos? Quais os critérios para elaborá-los?

Participo da escolha da trilha musical da novela, mas não tive nenhuma interferência sobre a escolha das faixas do CD. No álbum de cromos, com 64 figuras, quem saiu cedo da trama realmente ficou de fora.

10 – Você soube que várias bancas de jornal de São Paulo estão vendendo um card games ‘pirata’ de “Os Mutantes” e que ele tem feito muito sucesso e sendo muito elogiado, virando marina em algumas escolas? Como encara este tipo de coisa? Já pensaram em lançar um jogo oficial dos personagens?

Não sabia. Sei que existe um game sendo desenvolvido.

11 – Você já tem muitos fãs da época da novela “Vamp”, o que mudou na sua vida daquela época pra hoje em dia? Li uma entrevista sua onde você comentou que colou sua mãe em “Prova de Amor” inspirado pelo diretor Jorge Fernando ter colocado a dele em “Vamp”. Que outras lembranças e aprendizados trás desta época?

O que mudou é que eu era colaborador e agora sou titular. Na verdade, não me inspirei no Jorge Fernando, não. Risos. Esta notícia não procede. Minha mãe é atriz desde a década de 50. A mãe do Jorginho Fernando virou atriz em “Vamp”, já com mais de 60 anos. São casos completamente diferentes.

12 – Você foi colaborador de “Kubanacan” novela que trabalhou com o conceito de viagens no tempo. Pensou em adotar isto futuramente em “Os Mutantes”?

Sim. Vou me inspirar não em “Kubanacan”, mas em mais um romance de H.G.Wells, “A Máquina do Tempo”.

13 –Li recentemente uma declaração sua que personagens dados como mortos como Rosana e Jorge Pontual vão voltar? Até que ponto um personagem dado como morto está realmente morto? A atriz Ítala Nadi também deu uma declaração de que está de férias da novela e voltaria a gravá-la em novembro. Afinal, quem fica e quem sai da trama?

É verdade que Rosana (Maria Ceiça) e Felipe (Jorge Pontual) vão voltar. Quem é do mal e morre não vai voltar, mas quem é do bem, como Esmeralda (Lana Rodes), por exemplo, tem boas chances de retornar. Isto já aconteceu tb com Gisele Policarpo e vai acontecer com Rafaela Mandelli.

14 – Que planos existem para o futuro da novela? Alguma novidade para o começo do ano?

Tenho muitos planos. No momento, vamos ver a luta contra os reptilianos. Para a frente, no começo do ano, vamos entrar com todo um núcleo novo, a Escola de Artes Cênicas do Nil Carvalho (Antonio Pitanga)

15 – Saindo um pouco dos mutantes, existe alguma outra novela que você gostaria de escrever?

Sim. Se Deus quiser, ainda farei muitas outras novelas, mas prefiro não adiantar nada sobre isto agora. No momento, estou totalmente voltado para “Os Mutantes – Caminhos do Coração”.

Texto originalmente escrito para a revista Crash (Editora Escala).