Em 27 de setembro de 1993 a Rede Globo estreou a novela “Sonho Meu“. Protagonizada pela menina Maria Carolina (Carolina Pavanelli), a trama marcou época e conquistou toda uma geração, com uma história leve, mas com contextos sociais marcantes.

Nunca reprisada, a novela das seis foi escrita Marcílio Moraes, com supervisão de Lauro César Muniz, e direção de Reynaldo Boury – atualmente responsável por comandar o núcleo de teledramaturgia do SBT, focado em novelas infantis como “As Aventuras de Poliana”.

Para marcar a data relembro uma entrevista que fiz com o autor  Lauro César Muniz, em agosto de 2007, durante a estreia da peça “O Santo Parto” no Espaço Satyros 1. Em 2018 Lauro completou 80 anos de idade.

David – A maioria das suas obras sempre tratam de temas fortes e atuais, com uma critica social. Qual a critica que você pretende fazer com O Santo Parto? Qual foi o processo de criação?

Lauro César – A Igreja Católica é muito importante na sociedade brasileira daí, minha preocupação em discutir o seu lado mais obscurantista e perigoso. Os temas defendidos hoje pelo papado de Bento XVI são terríveis, acho que devemos combatê-los com discussões permanentes. O teatro é a minha forma de contribuir para derrubar as trevas que recaíram sobre os fiéis católicos brasileiros. O plot de um padre grávido foi um lampejo inexplicável, dessas idéias que brotam. A partir dessa situação absurda, me pareceu possível jogar os temas que me interessavam, na arena.

David – O senhor imaginava ter problemas com a igreja católica por causa do texto? Que outros trabalhos seus criaram polêmicas semelhantes?

Lauro César – O que me espanta é o desconhecimento dos representantes da Liga Cristã Mundial sobre o teatro: culpam os atores, não sabem que existe um autor, um texto escrito. O autor é o responsável por tudo que os atores dizem. Com “O Santo Parto” não queremos impor verdades, ao contrário, queremos discutir os temas suscitados pela atual Igreja Católica. Tenho o direito à plena liberdade de expressão, preceito importante da nossa Constituição. Sou responsável pelo que escrevo. A postura da L.C.M. serve a uma Igreja ultra-conservadora. Tenho certeza de que tudo que é dito em “O Santo Parto” é muito bem recebido pelos católicos mais liberais e lúcidos, como por exemplo, os que comungam com os princípios da Teologia da Libertação. Estes sim, estão sendo calados pela Igreja mais conservadora que hoje domina a linha de pregação do Vaticano. De uma maneira geral todas as minhas peças tem sido através dos tempos combatidas pelos conservadores e reacionários.” Sinal de Vida”, por exemplo, ficou proibida pela censura da ditadura por sete anos.

David – Quais serão suas próximas obras? Planeja alguma minissérie ou peça de teatro nova?

Lauro César – Estou no momento escrevendo o roteiro para um filme sobre os últimos dias de Getúlio Vargas. Em televisão devo fazer brevemente uma novela nova. Logo que encontrar um tempo quero voltar ao teatro, que é o meio de comunicação mais forte e pessoal, para um autor.

Leia também outra entrevista do polêmico autor: “Impeachment é artimanha dos donos do poder”, diz Lauro César Muniz