No último sábado, dia 08 de setembro, o canal Multishow exibiu o primeiro episódio do lote de inéditos de 2018 do seriado “Chaves” com a participação da dubladora Cecília Lemes, dando voz para a personagem Chiquinha.

Trata-se de “Seu Madruga leiteiro”, o episódio 107 de “Chaves”, exibido no México originalmente em 19/01/1976. No mesmo dia, o Multishow exibiu o capítulo “História de bruxas”, um clássico de “Chapolin”, em que Cecília dubla a Bruxa Baratuxa, da palavra cabalística “Parangaricutirimícuaro”.

A atriz Maria Antonieta de Las Nieves teve duas dubladoras no Brasil e ambas estão participando da dublagem dos seriados “Chaves” e “Chapolin” para o canal Multishow, que incluem episódios nunca dublados para a TV brasileira e algumas redublagens pontuais. Nos estúdios Som de Vera Cruz e Unidub, Sandra Mara Azevedo dublou os anos de 1973, 1975 e terá sua voz ainda em 1977. Cecília Lemes participa da temporada de 1976 e estará em 1978 e 1979 (Maria Antonieta não participa da temporada de 1974).

Na dublagem original de “Chaves” e “Chapolin”, versão brasileira MAGA, as dubladoras foram divididas da seguinte forma:

“Chaves”:
Sandra – 109 episódios aproximadamente (Lotes 1984 e 1988)
Cecília – 102 episódios aproximadamente (Lotes 1990 e 1992)

“Chapolin”:
Sandra – 3 episódios aproximadamente (Lotes 1984 e 1988)
Cecília – 25 episódios aproximadamente (Lotes 1990 e 1992)

Cecília Lemes também dublou a atriz Maria Antonieta na série Chespirito (dublagem para o SBT, intitulada “Clube do Chaves”); nos 10 boxes de DVDs dublados pelo Studio Gabia das séries “Chaves”, “Chapolin” e “Chespirito”; no filme “Charrito – Um Herói Mexicano”; na participação da atriz como Chiquinha na série “Skimo” e quando a atriz esteve na novela “Preciosa”.

Sandra Mara dublou Maria Antonieta ainda no programa “Chespirito” (dublagem para o canal CNT, exibida também pela TV Gazeta, com o nome original) e na novela “Sonhos e Caramelos”.

As duas dubladoras participaram da dublagem de episódios inéditos de “Chaves” para o SBT, em 2012, nos estúdios RioSound e DuBrasil. Na ocasião cada uma dublou sete capítulos para sua primeira exibição na TV brasileira e também atuaram como diretoras de dublagem da série.

Cecília Lemes também dublou outras atrizes na série clássica “Chaves”. Deu voz a María Luisa Alcalá, a Malicha (Malu), afilhada do Seu Madruga, em um episódio. Também fez diversos outros capítulos dublando as três atrizes diferentes que interpretaram a personagem Paty (a sobrinha da Gloria): Patty Juaréz (1973 – original de 72), Rosita Bouchot (1975) e Ana Lilian de la Macorra (1978/79). Por fim, fez uma ponta interpretando as reações (choros) do bebê que era a sobrinha da Dona Clotilde.

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Abaixo, uma entrevista feita em 2004, publicada pela primeira vez na internet em 03/04/2005 e posteriormente na revista Crash. O bate-papo durou mais de uma hora, mas foi resumido abaixo.

David – Cecília como você começou a dublar o seriado “Chaves”?

Cecília Lemes – Na TVS, que hoje é o SBT, nós éramos contratados e escalados conforme a necessidade e infelizmente não comecei a Chiquinha, mas depois ganhei este presentão quando a Sandra Mara (a dubladora original da personagem) foi pra Itália. Estava no corredor quando o Marcleo Gastaldi (dublador do Chaves e diretor artístico) me pegou e falou “Cecília vem dublar uma coisa aqui” e era a Paty. Pra falar a verdade eu achei muito estranha a série e falei “nossa ninguém vai assistir”. Era uma produção muito pobre, era tudo no estúdio, aqueles sapatos deles batendo ali no chão, era tudo muito falso, muito estranho. Mas depois você vai se encantando com a meiguice do Chaves, o amorzinho da Paty por ele, a Chiquinha morrendo de ciúmes e aquilo tudo me cativou e eu falei “poxa, tomara que as pessoas gostem” e realmente foi um sucesso, gostaram até demais. Bom, mas fui dublando a Paty, quando o Marcelo me falou “Cecília a Sandra foi pra Itália, agora você vai dublar a Chiquinha” e eu ainda contra argumentei “Marcelo, eu já faço a Paty, gosto da personagem” e ele me falou que a Chiquinha era maior, que eu ia gostar e realmente ele estava certo, na época eu fiquei meio chateada, mas hoje em dia eu gosto muito mais da Chiquinha e a Leda Figueiró também fez uma ótima Paty no meu lugar.

David – E pra você foi complicado substitui a Sandra? O público as vezes chega a confundir o trabalho das duas na televisão…

Cecília Lemes – Às vezes eu me confundia na televisão de casa e me perguntava “perai esta é da Sandra Mara ou é minha”. Mas quando fizemos juntas a novela Betty, a feia da Rede TV! dava pra perceber bem a diferença. Cada uma faz seu estilo, pois quando você dubla você escuta o original, então você vai muito pelo som original. Os dubladores não gostam muito que use esta palavra, mas a gente tem que imitar, chegar o mais próximo, o mais parecido possível, o mesmo quando você substitui alguém. Então você vai ouvir e tentar chegar o mais próximo, então eu ouvia a vovó falando e tentava chegar próximo possível daquilo que a atriz tinha feito na tela. Você pega o jeitinho, as entonações, vai muito pela carinha, então o segredo da dublagem é isso, respeitar o trabalho original.

David – E como era o choro da Chiquinha? Muitos observam ai sua diferença para a Sandra. Foi difícil de dublar?

Cecília Lemes – Bom, no original ela falava todas as vogais. Era muito difícil e ficava tão forçada, que apesar dela falar as vogais eu ficava na vogal A, era mais fácil. E no choro alguns observam algumas diferenças entre eu e a Sandra Mara, uma voz era mais aguda. Acho que o da Sandra era um pouquinho mais pro agudinho. Era mais esta diferença. Mas eu lembro que o diretor, que na época era o Marcelo Gastaldi, foi quem me falou pra não fazer as vogais e ir mais só na repetição da letra A.

David – Você não dublou Chespirito para a CNT, onde a Sandra voltou a fazer a personagem, mas redublou na versão para o SBT, como foi isso?

Cecília Lemes – O Silvio Santos quando comprou a série ele exigiu as vozes originais e no caso da Chiquinha teve este problema porque a Sandra tinha começado, ai eu fiz todo o resto e ela depois fez pra CNT e ele falou “não, eu quero quem fez mais tempo, quero a Cecília”. Mas eu não sabia disso, só soube depois que comecei a fazer e claro fiquei muito feliz.

David – Muitos dubladores falam muita coisa sobre a dublagem da série como direitos autorais não recebidos e um problema que ocorreu na época entre o Gastaldi e o SBT, onde alguns episódios seriam dublados mais de uma vez para dobrar os custos de produção, isso é verdade?

Cecília Lemes – Sim eu também ouvi esta história, é comentado no meio da dublagem que por isso as novelas foram pro Rio e tudo mais, mas independente de tudo isso vale destacar que o Marcelo Gastando continua sendo pra mim uma excelente pessoa e um maravilhoso profissional. Um cara que foi para a família dele um ótimo pai, um excelente marido e para todos nós um amigo fora de série. Uma vez ele levou meu marido e eu para passar um tempo no sitio dele e foi um final de semana tão gostoso que nós compramos o terreno do lado da propriedade dele. Marcelo era um gênio e isso nada vai tirar dele e da carreira dele. Quanto aos direitos autorais é uma coisa que se briga há tantos anos no meio da dublagem, independente de ser o “Chaves”.

David – Teve algum momento da dublagem que te marcou mais?

Cecília Lemes – Teve claro, eu não vou saber fazer agora, mas foi quando ela canta pro cãozinho dela o Peludinho, desse episódio eu lembro muito, não lembro a letra porque seria exigir muito da minha cabeça. Mas eu lembro muito desse amor dela pelo animalzinho que é algo que eu também tenho pelo meu cachorrinho, que alias esta hora deve estar lá morrendo de frio sozinho em casa tadinho (risos).

David – E o que marcou sua carreira além da Chiquinha?

Cecília Lemes – Eu lembro de um que foram “Os Ursinhos Carinhosos”, será que foi antes da Chiquinha? Não lembro a data, mas é um desenho que eu gostei muito de fazer. Eu não vi mais desenhos para crianças igual ao desenho dos Ursinhos Carinhosos. Eu fazia a bebê coração, eu era cor de rosinha, eu ia pela cor, eu via a rosinha e sabia que era a minha. Em uma série da Record, “Super Vick”, eu era a vizinha a Herriet, e eu não sei se era pelo jeitinho dela de intrometida, de safadinha, isso me marcou muito também. E claro a babá Fran de The Nanny, que era apaixonada pro aquele chefe dela e tinha aquela voz fanha, foi muito divertido também. Recentemente fiz a Grace, que era uma maluca muito legal do seriado “Will & Grace” na Sigma e foi maravilhoso também, inclusive foi com a direção do Nelson Machado (o Kiko, um dos diretores de “Chaves”).

David – E os desenhos japoneses Cecília?

Cecília Lemes – A também foram ótimos de fazer. A Lucy e a irmã gêmea malvada dela de “Guerreiras Mágicas de Reyarth “foi a que mais marcou, todo evento que vou eu tenho que gritar os “Raios de fogo” da personagem. Infelizmente eu não fiz mais na época por uns problemas com o estúdio que fazia este anime. Mas depois eu fiz a Ritsuko de “Evangelion” e a mãe da Bulma de “Dragon Ball”, que era uma redublagem e eu não sabia disso, então eu fiz. Mas fiquei feliz que o público gostou do resultado e que a dubladora anterior foi escalada pra outro papel na série.

David – E quanto aos eventos de anime? Você gosta?

Cecília Lemes – Eu gosto muito de ir, de encontrar o público, de ter este retorno, este carinho. Gosto bastante, todos que me convidam eu vou com o maior prazer.

(as fotos que ilustram esta matéria foram originalmente tiradas por mim no dia desta entrevista)

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Anos depois tive a chance de entrevistar novamente Cecília Lemes para a DaquiTV, do portal Tudoeste. Este material foi ao ar originalmente em 8 de setembro de 2011 no site da Página Editora. Em 2015, a empresa republicou material na internet, agora no YouTube. Coloco os vídeos abaixo.