Quem assiste a série “The Handmaid’s Tale“, inspirada no livro “O Conto da Aia“, já deve ter se perguntado como os outros países aceitam com tanta naturalidade o que está ocorrendo nos Estados Unidos, ou melhor, na República de Gileade. Na primeira temporada, o governo totalitário faz negócios com o México; e no segundo ano, quase que uma importante transação é fechada com o Canadá.
Como a ONU aceita as atrocidades cometidas em Gileade e os demais países não impõem fortes sanções contra o extremista governo religioso e militarizado que tomou conta dos Estados Unidos?
No entanto, não é complicado de imaginar que esta realidade seria possível. A ponto inclusive de Gileade receber uma Copa do Mundo de Futebol…?! Fica a dica para os produtores usarem a ideia na terceira temporada.
Na última sexta-feira, dia 12 de outubro, os jogadores de futebol masculino do Brasil foram até a Arábia Saudita para um amistoso contra os homens que defendem a seleção saudita. O jogo foi organizado pela Fifa e recebeu transmissão da televisão.
Tudo correto se não fosse por um pequeno detalhe: a Arábia Saudita é um país conhecido por violar direitos humanos.
Na Arábia Saudita as mulheres não podem se vestir como desejam, interagir com homens, entrar em cemitérios, disputar competições esportivas em seu território e se consultar com um médico ou viajar sem a presença de seu guardião. Lembrou a vida das mulheres de Gileade? Sim.
E assim como em “The Handmaid’s Tale”, é crime ser LGBT na Arábia Saudita. Homossexualidade e transexualidade são vistas como atividades imorais e indecentes. A lei saudita pode punir os atos com multas, flagelações, prisão perpétua, morte e tortura.
E boa parte dos brasileiros aceitam com normalidade um amistoso de futebol da nossa seleção na Arábia Saudita, tanto que a exibição do jogo pela Rede Globo deu média de 16,5 pontos no Ibope da Grande São Paulo. O número de audiência é superior aos 12,7 que o filme “Click” registrou na sexta-feira anterior (dia 5), no mesmo horário, na “Sessão da Tarde”.
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