Sabe aquela bobagem de “Cura Gay” que alguns psicológicos alegam existir? Ela é uma realidade nas novelas do autor João Emanuel Carneiro, que encerrou nesta sexta-feira, dia 09 de novembro, a trama de “Segundo Sol”.
Em comum na obra de João Emanuel estão os personagens quase-gays, semi-gays, bi curiosos, bi confusos ou ex-gays.
Em “Da Cor do Pecado” tivemos Abelardo (Caio Blat), rapaz sensível e delicado que em um família de lutadores queria ser maquiador. Para o público da novela era esperado um personagem homossexual, era uma linguagem aceita por quem assistia a novela, até pelo relacionamento de amizade que ele cria com Íris (Samuel Vieira), um jovem parecido com ele. No final, ele “se assume” hétero e termina a trama com Tina (Karina Bacchi), uma moça que ele detestava.
Com “Cobras e Lagartos” conhecemos Tomás (Leonardo Miggiorin), que tinha um visual espalhafatoso com cabelos tingidos, lentes de contato, roupas justas… Metrossexual? Para os demais personagens não, que o chamavam de piadas homofóbicas. Pra que? Homofobia gratuita com um personagem que podia ser gay, ou não, mas era só ofendido em cena.
Chegamos em “A Favorita” e conhecemos Orlandinho (Iran Malfitano), personagem apresentado como gay e apaixonado por Halley (Cauã Reymond). O jovem acaba entrando em um casamento de aparências com a amiga Maria do Céu (Deborah Secco), acaba se apaixonando por ela, e “vira hétero”. No fim da novela, a avó de Orlandinho, Dona Geralda (Suely Franco) revela que o mesmo tinha ocorrido com o pai dele: Seu Darcy (Luiz Baccelli) também era um ex-gay.
A situação fica mais absurda em “Avenida Brasil” com Roni (Daniel Rocha), um jogador de futebol com problemas claros de não assumir sua sexualidade. Para o telespectador fica clara sua paixão pelo colega de time Leandro (Thiago Martins); mas, por artimanha do texto de João Emanuel, Roni se casa com Suellen (Ísis Vaverde), uma Maria-Chuteira que ele detestava. Suellen tanto faz que leva Roni pra cama, mais de uma vez. Mas, ela segue investindo em Leandro, que fica rico e famoso. No fim, a moça sem caráter termina com os dois, em uma relação a três, na qual o papel dos dois rapazes entre si não fica claro nem para os personagens da novela, nem para quem a assistia.
Depois, JEC apresentou um complicado relacionamento lésbico em “A Regra do Jogo“, com a trama de Úrsula (Júlia Rabello) e Duda (Giselle Batista). As moças namoravam e desejavam ter um filho. A inseminação artificial não dá certo, então Duda vai para a cama com o cunhado, Vavá (Marcello Novaes). Com Úrsula indignada, a relação de ambas termina e Duda passa a se relacionar com Vavá. No fim da novela, o telespectador pôde entender que elas se entenderam e terminaram juntas, mas sem amor e com muitas brigas após a traição.
Por fim, em “Segundo Sol“, o autor João Emanuel Carneiro parece ter juntado todas as tramas gays anteriores, batido no liquidificador e criado a bobagem que foi a relação de Maura (Nanda Costa) e Selma (Carol Fazu). Para piorar, tudo ocorrendo ao mesmo tempo em que a atriz Nanda Costa revelou que se relacionava com outra mulher, a cantora Lan Lanh.
Selma era casada com um homem, e traia o rapaz com Maura. Para o público ficava clara a bissexualidade de Selma e a homossexualidade de Maura. No entanto, elas queria um filho e – como ocorreu em “A Regra do Jogo” – recorrem a um pai de aluguel, no caso o policial que trabalhava com Maura, Ionan (Armando Babaioff).
Maura, que nunca aparentou ser bissexual – como Orlandinho, em “A Favorita” – se apaixona pelo colega de trabalho e passa a ter um relacionamento sexual com ele, traindo a esposa. Como ela alegava amar os dois, propõe uma relação a 3 – lembrando “Avenida Brasil” – e eles passam a morar juntos.
No último capítulo, o erro final. O casal lésbico fica junto, mas não por iniciativa das duas, mas sim por Ionan perceber que está sobrando no relacionamento e sair de casa. Sim, o homem branco hétero abandona as lésbicas, abrindo caminho para a felicidade delas.
Assim é a obra de João Emanuel retratando personagens gays, cheia de repetições e uma verdadeira fixação em retratá-los como gays no (ou voltando para o) armário.
Em tempo: personagens neste estilo não são exclusivos da obra de JEC, eles também estão presentes com frequência nas novelas de Walcyr Carrasco, mas isto é assunto para outra postagem.