Já dizia Glória Perez “pobre de quem não sabe voar”. E na atual novela da autora, “Travessia”, o público está tendo que voar muito. São diversos os problemas que fazem a novela não engrenar.
Um dos motivos apontados por colegas, dos problemas no texto de Glória, seria o fato dela escrever sozinha, uma vez ela respondeu para Gilberto Braga: “Problema maior é quando passa por três autores, dez colaboradores e a gente nota (as falhas), né?”.
E quais seriam estas falhas? Vou tentar listar algumas.
Atores mais limitados em papéis de destaque
A lista de atores sem tanto peso dramático é grande na obra de Glória Perez: Victor Fasano (“Barriga de Aluguel), Ricardo Macchi (“Explode Coração”), Lucas Babin (“América”) e Fiuk (“A Força do Querer”). Desta vez o peso cai em uma atriz iniciante Jade Picon. É complicado as cenas que exigem muito da ex-BBB. O público não consegue comprar as sequências dramáticas com a moça.
Falta de trama condutora
Na novela “Salve Jorge” ficou claro logo no começo a trama de tráfico de mulheres. Em “A Força do Querer” era a forma como Bibi Perigosa se envolveu com o crime. E em “O Clone” era a trama da clonagem humano o fio condutor de meses de capítulos. Mas em “Travessia”? Não fica claro o objetivo da autora pelos próximos longos meses.
Falta de casais para torcermos
Em “Caminho das Índias” não funcionou Juliana Paes (Maya) com Márcio Garcia (Bahuan Sundrani), já em “América” o público não comprou o casal de Deborah Secco (Sol) e Murilo Benício (Tião). Mudanças ocorreram e podem ocorrer ainda em “Travessia”, pois o público não conseguiu comprar o popular galã Chay Suede nem com Lucy Alves e nem com Jade Picon.
Pontas soltas
É inexplicável como Brisa (Lucy Alves) não usou as redes sociais para saber notícias do filho ou se comunicar com as amigas por um período tão longo de tempo. Esta falha ficou para trás, mas outras continuam existindo, como o casal Giovanna Antonelli (Helô) e Alexandre Nero (Stenio), de “Salve Jorge”, não citarem sua filha.
Tramas rasas
A abordagem da assexualidade de Rudá (Guilherme Cabral) fica perdida em meio a insinuações hofóbicas do padrasto dele e falta de cuidado em alguns momentos da forma rasa que o roteiro tenta explicar a sexualidade do rapaz. Mas pior ainda é a forma como Rudá foi envolvido na fake news de Brisa, como se o problema sério das notícias falsas fosse apenas brincadeiras de crianças. E ainda fica para muitos espectadores a dúvida: ele age assim pela sexualidade reprimida? Tudo fica embolado e confuso.
Personagens com múltiplas personalidades
Moretti (Rodrigo Lombardi) nunca foi muito honesto, até no episódio em que foi alvo de um tiro ele se mostrou bem covarde, agora virou um assassino. Ari (Chay Suede) em alguns momentos parece amar Brisa, em outros parece que é interesseiro, em alguns passa a imagem de bom moço, qual a dele? Guerra (Humberto Martins) foi capaz de criar uma certidão de nascimento falsa para uma menina virar sua filha; mas qual a dele agora com o filho de Brisa, em alguns momento ele parece querer tirar o menino da mãe, mas em outros parece não querer. Confuso.
O núcleo leve é pesado
Normalmente o núcleo do subúrbio é alegre nas novelas de Glória Perez: Bar da Dona Jura (“O Clone”), Bar do Seu Gomes (“América”) e Bar da Dona Diva (“Salve Jorge”) são apenas alguns exemplos. Mas o bar do Nunes (Orã Figueiredo) é pura depressão em “Travessia”. Uma advogada cadeirante luta por seus direitos sem ir na justiça, um garçom está frustrado por ser substituído no trabalho por um robô (?) e o pior é que o próprio dono do bar é uma pessoa grossa e sem nenhum carisma. Complicado.
Cenas do próximo capítulo são inúteis
As cenas do próximo capítulo de “Pantanal” sempre tinham bons ganchos e as de “Mar do Sertão” são divertidas e criativas; já as de “Travessia” são a mais pura perda de tempo. E o congelamento ao final do episódio que só apareceu depois um mês da novela no ar?
Confusão nos bastidores
Para encerrar preciso falar de Cássia Kis, como ter qualquer simpatia por Cidália sabendo da forma como a atriz tem agido fora da novela? Cidália teoricamente é uma mulher da tecnologia e que trata com naturalidade temas avançados na sociedade. Já a atriz… Deixa pra lá!