No final da novela “Passione” foi revelado que Clara (Mariana Ximenes) não tinha se arrependido e não amava de verdade Totó (Tony Ramos). O autor disse orgulhoso que Clara não tinha enganado apenas os personagens da ficção, mas também o público, que acreditou na enfermeira. O público apontou um erro no roteiro, pois Clara mostrava que amava Totó e estava arrependida quando estava sozinha, sem ninguém olhando, era apenas ela e a câmera, que representava o público. Enganar o público desta forma e usando esta estratégia irreal é fácil.

Quem enganou bem o público foi Mike White, criador de “The White Lotus“, o novelão da HBO. Em sua segunda temporada, localizada na Sicília, a prostituta Lucia (Simona Tabasco) conseguiu de forma coerente enganar os personagens e o público. Ela interpretou uma moça encantadora que era garota de programa por vocação, mas que aparentava ser mais uma vítima do sistema e da sociedade. Assim como ocorreu com o jovem Albie (Adam DiMarco), os telespectadores torceram para ela mudar de vida e ter um “final feliz” ao lado do rapaz nos Estados Unidos. Mas o “final feliz” era o que ela queria, o que ela buscou e procurou e não o que nós queríamos. Ela buscou seu destino e o autor fez isso de forma crível.

Mas esta não foi a única qualidade de “The White Lotus”. Vocês já viram a postagem de um usuário do Face que viralizou no Twitter falando que “finalmente temos histórias de gays trambiqueiras”? Pois tivemos nesta série da HBO Max. Tanya (Jennifer Coolidge) caiu nas mãos de Quentin (Tom Hollander) e seus amigos e teve um final épico. A melhor personagem da série se envolveu em uma enrascada enorme e ainda conseguiu fazer uma reviravolta no clichê da vidente, que tinha previsto seu suicídio. E até o critério da sexualidade fluída foi vista com o “sobrinho” de Quentin, o jovem Jack (Leo Woodall), e o bromance de Cameron (Theo James) pelo seu amigo Ethan (Will Sharpe).

Por fim, a série destacou as mulheres fortes e independentes. Mia (Beatrice Grannò) não tem pudor de usar seu corpo para conseguir o que deseja, afinal o corpo é dela e ela faz o que desejar e precisar com ele. Daphne (Meghann Fahy) não liga para as traições do amigo pois responde na mesma moeda. Valentina (Sabrina Impacciatore) sai do armário, assume e aceita sua homossexualidade.

Bonus positivo: Vale destacar as atuações perfeitas de Aubrey Plaza como Harper Spiller e de F. Murray Abraham como Bert Di Grasso, as ilustrações do brasileiro Lezio Lopes na abertura e a espetacular dublagem brasileira com destaque para as dubladoras Fernanda Hartmann (Tanya), Bruna Nogueira (Portia), Stephany Custodi (Daphne), Lia Antunes (Harper), Carla Martelli (Lucia) e Nathalia Guillen (Mia)

Bonus negativo: A HBO Max continua fazendo o público brasileiro sofrer. Quem assiste legendado sofreu com legendas entrando atrasadas, passando rapidamente ou simplesmente não existindo em alguns diálogos. Já quem preferiu dublado ficou sem assistir o penúltimo episódio, que misteriosamente ficou sem a versão brasileira.