Nos últimos dias, a pauta nas redes sociais nerds é a decadência da CCXP, ou de que 2025 apresentou a pior edição do evento. Será mesmo? Será que o evento ficou ruim ou apenas suas falhas ficaram mais evidentes? Problemas que sempre estiveram presentes desde a época em que chamava Comic Con Experience e agora se tornaram mais óbvios.
As filas de ontem, de hoje e de… sempre?
CCXP sempre foi um evento marcado por filas, e antes, essas eram ainda piores as filas para alimentação e para usar o banheiro. As reformas do antigo Expo Imigrantes (agora Expo São Paulo) ajudaram nesses aspectos. Mas, este ano, ganharam destaque as filas para entrar nos estandes, desde a chance de participar das chamadas “ativações” até para consumir nos estandes. Havia uma fila de dez minutos para entrar na Editora Panini e, depois, mais 20 minutos de fila para pagar. Pior ainda era quando a fila parava porque um influencer estava gravando “conteúdo” – isso depois dele furar a fila e passar na frente de muitas pessoas cansadas e estressadas por ser “famoso” em um nicho. Usei muitas aspas neste texto pois eu não conheci muitas daquelas pessoas e considerei muitas das atrações rápidas e irrelevantes.
A melhor área (paga) do evento
Quando você tenta criticar a CCXP na internet sempre vai aparecer alguém defendendo dizendo que no evento há a Artists’ Valley, “o coração da CCXP”. Será mesmo? Pelo menos é uma área mais vazia, que permite andar e respirar. Contudo, já existe um problema conceitual: a melhor área de um evento tão caro quanto a CCXP é um espaço para gastar comprando quadrinhos e outros itens criados por desenhistas. Para piorar, considero que o espaço estava bastante desorganizado neste ano, com um amontoado de mesas, em que poucas tinham uma identificação clara do nome do desenhista atrás do profissional uma identificação clara de quem eram essas pessoas para quem não consegue associar nome e rosto. Não existia um padrão no setor e tudo parecia bastante confuso.
Os estandes cheios e destoavam da proposta
Uma fila de pelo menos 30 minutos no estande da Nintendo: esse era o tempo para jogar cinco minutos um jogo e ganhar uma cartilha de adesivos. Não havia estandes de outras grandes empresas de games, como PlayStation/Sony. Essa decadência nos brindes era evidente para quem participou das primeiras edições da CCXP, mas vai além — a baixa disponibilidade de grandes estandes era marcante. A Disney mantinha uma loja da Pixar (e só), e cadê Apple+, Globoplay/Globo, SBT, TV Cultura e, principalmente, Netflix, que marcaram a história do evento. Em vez disso, ativações de marcas que pouco dialogavam com o que o público espera de uma convenção de televisão, cinema e quadrinhos, pouco importava Fanta, Shopee, BIC, Seara, Banco do Brasil, Petrobras, Fiat pouco entregavam. Um espaço enorme era destinado a quem pagava um valor alto adicional para descansar em puffs. E estandes alinhados ao objetivo do evento, como a Sato Company, pouco acrescentava: uma moto para tirar fotos, venda de pôsteres e um estúdio de tatuagem (?).
O erro de cálculo da “lactação” (aka lacração)
A organização do Artists’ Valley passou a criar uma seleção de que artistas poderiam participar na feira não por seus dons artísticos, mas por ideologia, assim acabou vetando o ator e roteirista Felipe Folgosi de ter uma mesa no local. Isso não afeitou o rapaz, que acabou tendo espaço por dois anos seguidos para mostrar seus livros no estande da Secretaria da Cultura, mas deixou o evento ser algo de ataques na internet de ser um local “woke”. Radicais dizem que a CCXP é “comunista”, um absurdo visto que o foco da convenção é vencer e lucrar, lemas bem capitalistas. Para os críticos tudo fica pior com a primeira (e única – ainda bem) edição do CCXP Awards, premiação que ocorreu apenas em 2022 e foi um enorme fracasso. Nas duas categorias femininas de atuação (TV e cinema) as vencedoras foram atrizes trans. A inclusão pode parecer bem vinda, mas além de nenhuma atriz cis ter vencido ocorreu o agravante de vencer as atuações mais fracas do ano. Não tem como a excelente cantora Liniker (Manhãs de Setembro) ter vencido por mérito artístico as atrizes profissionais Alessandra Negrini (Cidade Invisível), Hermila Guedes (Segunda Chamada), Letícia Colin (Onde Está Meu Coração) e Letícia Colin (Sessão de Terapia). Todas, sem exceção, entregaram melhores interpretações. Liniker fazia em cena reações falsas até quando fingia dirigir uma moto em “Manhãs de Setembro”. Em cinema ocorreu o mesmo, a atriz Renata Carvalho (Vento Seco) teve uma boa atuação, mas ainda assim inferior às outras indicadas: Alice Braga (Eduardo e Mônica), Grace Orsato (Meu Nome É Bagdá), Jéssica Ellen (Cabeça de Nêgo) e Taís Araújo (Medida Provisória). Com atitudes assim, o evento conseguiu afastar boa parte do público e gerar antipatia em uma fatia do mercado.
E o resto?
O que mais posso falar? Já falei das filas, sim, mas o que justifica os estandes vendendo produtos mais caros dentro de um local que o público pagou caro para entrar? Um bom exemplo é a Fandombox, em que qualquer boneco custava 110 reais. No site Mercado Livre, com entrega grátis, é possível encontrar a maioria com preços a partir de 60 reais. O estande do Mercado Livre, no próprio evento, tinha preços mais altos do que no aplicativo. Cadê as novidades? O próprio Fandombox tinha o lançamento do boneco do Chapolin, mas era um pré-lançamento; você não podia levá-lo imediatamente para casa. Falando em preços altos, o que dizer de lanches por 70 reais e garrafas de água por 10 reais? E o estacionamento do espaço custando 90 reais? Além disso, vale destacar a área medieval: linda, mas escura e com um forte calor, muitas pessoas passassem mal no local.
Resumo final
CCXP precisa se reinventar. Muitos afirmam que o evento piorou junto com site Omelete, com ambos perdendo qualidade, o que é verdade. O evento precisa parar de valorizar influencers e pensar mais em quem paga, dando prioridade ao público pagante. É necessário repensar os preços e melhorar as filas. Por fim, fica de avaliação final que o melhor evento geek de 2025 foi o Anime Friends, convenção que – por coincidência – não terá mais a participação justamente do grupo do Omelete.
(Fotos: Silmara Siqueira)













David Denis criou o seu primeiro site em janeiro de 1999; o Cultureba entrou no ar em julho de 2005.
Ator – DRT: 29.837/SP
(Teatro Macunaíma)
Jornalista – MTB: 55.172/SP
(Universidade Anhembi Morumbi)