“O Doutrinador” surgiu nos quadrinhos digitais, ganhou fama durante as manifestações de 2013, estrelou revistas impressas e chegou aos cinemas neste ano de 2018.
A obra original de Luciano Cunha é um achado, um homem mascarado combatendo a corrupção e matando políticos corruptos. O visual, o nome, tudo ajuda. Mas algo não funcionou na adaptação para as telas grandes.
A estreia estava prevista para o segundo semestre de 2018 e a data definitiva foi adiada algumas vezes. Falta de confiança no produto final ou apenas a necessidade de evitar a agenda das eleições? Talvez a segunda opção, ainda mais com o filme mostrando o assassinato do candidato a presidência com mais chances de chegar ao planalto.
O filme chegou às telas no dia 1º de novembro e o resultado foi terrível, apenas o sexto lugar na lista dos longas mais vistos naquele fim de semana. “O Doutrinador” estreou em 435 salas, enquanto “Nasce Uma Estrela” ocupou o quinto lugar sendo exibido em 295 cinemas.
No fim de semana seguinte, que iniciou no dia 8 de novembro, a queda foi grande, com o longa apenas na nona posição do ranking. “O Doutrinador”, com 386 salas, estava em cartaz em mais cinemas do que os filmes que ocupavam da quinta até o oitavo lugar na lista das produções mais vistas no Brasil.
Até este momento, “O Doutrinador” tinha conseguido arrecadar apenas 2 milhões e 800 mil reais, para um público de quase 197 mil pessoas.
“Nada a Perder: Contra Tudo, Por Todos” das mesmas produtoras de “O Doutrinador” (Downtown Filmes / Paris Filmes) arrecadou mais de 119 milhões de reais e levou aos cinemas mais de 11 milhões de pessoas. Ok, comparar com a biografia do criador da Igreja Universal é covardia. Então vou destacar uma outra produção nacional da Downtown, a comédia “Os Farofeiros”, que conseguiu mais de 36 milhões de reais e dois milhões e meio de pagantes.
Resumindo: os números são pequenos, mas o filme é grande. A crítica social está presente com força, um exemplo: um pastor-deputado corrupto ganha votos prometendo aprovar a cura gay. E a grande qualidade do filme é o seu elenco, em especial a menina Helena Luz (da novela “Carinha de Anjo”). Vale destacar ainda a direção de arte e a fotografia, melhor do que muitos filmes de grandes estúdios de Hollywood.
Mas, nem tudo são flores. A edição do filme é problemática, sempre dá a impressão para o espectador que faltou algo. A culpa pode ser do planejamento de rodar ao mesmo tempo o filme e uma série de TV, que vai estender a trama. Exemplo: em uma cena a ministra vivida Marília Gabriela sai viva de um hotel, no outro ela aparece riscada da lista do Doutrinador, como se tivesse morrido. Outro ponto, a candidata a presidente Helena Ranaldi não tem nenhum background, deixando impossível criar qualquer vinculo com ela.
O espectador também é arrancado do filme quando se sente enganado com o que está vendo, não ser aquilo que ele conhece. Está ali a bandeira do Brasil, notas de Real e a nomenclatura PM (para se referir a determinada polícia); mas, por outro lado, o Estado em que se passa a trama é inventado, assim como a cidade e o departamento da polícia civil. Isto arranca o público do longa, visto que fica claro que aquela cidade é São Paulo, e que ali está o Teatro Municipal, o Minhocão e o hotel Maksoud Plaza, só para dar alguns exemplos.
“O Doutrinador” é um bom filme, que talvez seria mais visto se tivesse uma parceria com a Globo Filmes, para ter propagandas durante a programação da Rede Globo. A série de TV pode colaborar para manter o herói no anonimato, irá ao ar no Space, um canal menor da TV paga; pode ser que ele teria mais chance de se popularizar em uma emissora como Multishow ou na Netflix.